Após uma polêmica que se espalhou por diversos países no ano passado, quando se divulgou que as próteses de silicone da empresa francesa PIP eram tóxicas, um relatório britânico apresentado nesta segunda-feira indica que o material usado nos implantes da marca não oferecem riscos à saúde.
As revelações chegam mais de dois anos depois que o escândalo tomou grandes proporções e muitos países chegaram a suspender a venda dos produtos e orientaram milhares de mulheres que tinham próteses da marca a retirá-las.
Em 2011 o dono da Poly Implant Prothese (PIP) chegou a ter prisão decretada pela Justiça da França, após a descoberta de que seus produtos continham silicone industrial que poderia causar câncer e que tinham alto risco de ruptura.
O estudo do Serviço Britânico de Saúde (NHS, na sigla em inglês), liderado pelo diretor médico Bruce Keogh, diz agora que o material usado nas próteses da PIP não são tóxicos nem cancerígenos, embora tenha reiterado que a taxa de ruptura do produto é, de fato, duas vezes maior do que a normal.
Cerca de 47 mil mulheres têm os implantes da PIP na Grã-Bretanha e por volta de 95% delas fizeram a cirurgia em clínicas privadas. A minoria teve as próteses colocadas pelo NHS em operações de reconstrução das mamas em casos de câncer.
Ainda em janeiro a equipe de Keogh havia indicado que não acreditava ter provas suficientes para recomendar a retirada das próteses.
O médico diz que muitos testes em diferentes países “mostraram que os implantes não são tóxicos e portanto não acreditamos que eles representem uma ameaça de longo prazo à saúde das mulheres que possuem os implantes PIP”.
“No entanto, concluímos que estes implantes têm um padrão de qualidade inferior e quando comparados a outros produtos têm uma chance maior de ruptura. Portanto, recomendamos que as mulheres que possuam sintomas de uma ruptura –por exemplo maciez excessiva, dores ou caroços- consultem seus cirurgiões ou clínicos”, acrescentou.
Cautela
Fazel Fatah, presidente da Associação Britânica de Cirurgiões Plásticos, avalia os resultados com cautela e diz que as pacientes devem ter resguardado seu direito de remover os implantes.
“Apesar dos testes rigorosos mostrando que não há riscos de danos à saúde humana de longo prazo devido aos elementos químicos presentes no gel, permanece o fato de que as [próteses] PIPs têm chance significativamente maior de romperem e vazarem e, portanto, causarem reações físicas em uma proporção inaceitável para as pacientes”, indica.
Risco de rupturaO relatório diz que as próteses da PIP têm taxa de ruptura duas vezes maior do que o normal Após cinco anos, a taxa fica entre 6% e 12% Após dez anos, a taxa é de 15% a 30% Outras marcas de implantes têm taxa entre 10% e 14% após dez anos
“Concordamos com os resultados do relatório de que a ansiedade por si mesma é uma forma de risco à saúde e por isso é inteiramente razoável que as mulheres tenham o direito de removê-las –independentemente de ter havido uma ruptura”, acrescenta.
De forma geral, em toda a Grã-Bretanha todas as mulheres que tiveram implantes PIP colocadas pelo NHS podem removê-las e substituídas de graça.
No País de Gales, o NHS também substitui as próteses de mulheres que as colocaram em clínicas particulares. Na Inglaterra e na Escócia o NHS não fornece novos implantes de forma gratuita.
Escândalo
Próteses da marca francesa PIP foram proibidas em diversos países após escândalo em 2011
No Brasil, a importação de próteses de silicone está suspensa pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) desde o dia 22 de março até que o Inmetro crie um sistema de avaliação de qualidade e os fabricantes passem pelos testes para obter um selo de aprovação.
Em março de 2010, a PIP foi fechada na França após descobrir-se que suas próteses continham silicone industrial não liberado para uso médico.
Seu dono, Jean-Claude Mass, de 72 anos, foi preso durante as investigações e depois libertado, mas voltou a ser detido em março de 2012 após não conseguir pagar a fiança de 100 mil euros (R$ 230 mil). Ele admitiu ter usado o silicone impróprio por ser “mais barato e melhor” mas insistiu que eles não são perigosos.
O caso ganhou dimensão internacional em dezembro de 2011, quando o governo francês aconselhou que todas as 30 mil mulheres com as próteses da marca no país deveriam retirá-las em procedimento cirúrgico, como medida preventiva.
Até então a terceira maior fabricante mundial de implantes, a PIP, fundada em 1991, produziu ao longo de quase 20 anos próteses usadas por 400 mil mulheres em 65 países.
Muitos países também aconselharam que os implantes mamários da marca fossem removidos.
Agência Brasil
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