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quarta-feira, 18 de julho de 2012

Celular e direção é mesmo perigoso?


Desafio atual é saber conciliar a comunicação no veículo com a segurança viária


Em maio de 1922, um americano de 18 anos, George Frost, inventou e instalou o primeiro rádio de automóvel em seu Ford T – justamente o modelo de carro apresentado por Henry Ford em 1908. Nos seus primórdios, o rádio ocupava tanto espaço que, se o carro tivesse bancos traseiros, eles seriam ocupados pelo rádio e a antena. É provável que o autorrádio tenha sido o primeiro dispositivo eletrônico, embarcado em veículo, capaz de provocar distração no motorista.

Imagine a dificuldade para trocar de estação... Mas os avanços tecnológicos dos acessórios sempre caminham junto com o desenvolvimento da indústria automotiva. Atualmente, as fabricantes desenvolvem tecnologias para que os acessórios tenham interface com aplicativos como Twitter, Facebook, músicas on-line, navegação GPS e uso de telefone.


Tudo isso pode ser agrupado em um monitor de 8 polegadas instalado no painel do veículo – as funções podem ser ativadas por meio de comando de voz, toque na tela ou em botão no volante.

Os consumidores americanos aprovam esses novos dispositivos, mas admitem que a chance do motorista se distrair com tudo isso vai aumentar. É o que tem deixado autoridades e especialistas norte-americanos em segurança viária cautelosos. O Departamento de Transporte deles (DOT, sigla em inglês) pretende concluir um conjunto de diretrizes que ditará protocolos de segurança no uso destes dispositivos.

Estudos indicam que proibições completas ao uso de telefones celulares ao longo do tempo não têm se mostrado eficientes na prevenção de acidentes

O que os estudos dizem

O National Highway Traffic Safety Administration (NHTSA) informa, em seu boletim de setembro de 2010, que “nas estradas norte-americanas, a maioria das mortes relacionadas à distração na condução de veículo, 84%, foi associada à classificação geral de condução do veículo de forma descuidada ou desatenta. Nesta classificação se incluem: trocar CD no rádio, uso de telefones celulares, conversar com o passageiro, comer, olhar a paisagem, a combinação entre estas etc.”.

 

Situação
Onde está a cabeça
do motorista
O que provoca a distração
Distração interna
A atenção do motorista está voltada para
algum evento, objeto, pessoa ou atividade no
interior do veículo.
Ajustar o rádio ou o ar-condicionado, conversar
com passageiro, dar bronca nas crianças
enquanto dirige, usar telefone celular, pegar
objetos caídos, ler revistas, mapas...
Distração externa
O motorista está de olho em algum evento,
objeto, pessoa ou atividade do lado de fora
Procurar um endereço de rua, ler placa,
admirar a paisagem, paquerar enquanto dirige,
olhar para local em que aconteceu acidente...
Desatenção
O motorista está absorto nos seus próprios
pensamentos.
“Sonhar acordado”, ficar pensando
em problemas profissionais, preocupar-se
com questões familiares...


Nos acidentes de automóvel, as autoridades americanas consideram difícil identificar a causa específica da distração. Quando foi possível identificar como causa do acidente o uso de telefone celular, faltou a informação sobre qual função do telefone estava sendo utilizada (se o motorista estava falando, discando, teclando mensagens de texto, conferindo envio ou recebimento de SMS...).

Em 2009, o estudo “Distração do Motorista na Operação de Veículo Comercial”, do NHTSA, investigou os acidentes ou quase acidentes provocados por distração ao volante de motoristas de caminhão. O comportamento dos motoristas foi monitorado por sensores e câmeras de vídeo adaptadas nas cabines dos caminhões. Os resultados, resumidos, são apresentados em gráfico desta matéria.

O risco identificado no gráfico não garante que falar ao telefone celular com “viva-voz” seja absolutamente seguro em todas as situações e para todos os condutores. É preciso ter em mente que essa comunicação representa apenas uma fração dos estímulos que podem chamar a atenção do motorista.

Estudo semelhante realizado em 2007 com condutores de carros de passeio, chamado “Análise da Desatenção do Motorista”, também do NHTSA, é outro que indica fatores de distração do condutor. Embora seja difícil estabelecer com precisão as relações de risco entre os estudos citados – em razão das particularidades de cada um –, é razoável admitir que as chances de se envolver em acidentes causados por distração seguem as estimativas apresentadas no gráfico e podem ser aplicadas aos condutores de outros tipos de veículos.

Do outro lado do Atlântico, o estudo sueco “Os telefones celulares e outros dispositivos de comunicação e seu impacto na segurança rodoviária – Uma revisão da literatura”, do The Swedish National Road and Transport Research Institute, também contribui para o debate.

Esta revisão da literatura reafirma a diminuição do desempenho do motorista devido ao uso do telefone celular, mas indica que não é possível tirar quaisquer conclusões sobre o real impacto de segurança no uso do celular em termos de frequência de acidentes.

O celular impõe uma série de distrações: quando recebemos uma ligação telefônica (distração auditiva), pegamos o aparelho (distração visual), atendemos manualmente (distrações motora e visual) e conversamos (distração cognitiva e auditiva).

Esse processo todo limita consideravelmente a capacidade de concentração que você precisa ter para dirigir. Isso está associado ao tempo que se leva para completar as atividades, sua complexidade, a habilidade do condutor e as circunstâncias do tráfego.

Não há provas seguras de que a utilização de “viva-voz” durante a condução elimina os perigos da distração. Mas dispositivos do tipo “viva-voz” ou “mãos-livres”, ativados por comando de voz, são menos arriscados – desde que o condutor não tenha de tirar os olhos da via.

Uso de álcool x uso do celular

O Virginia Tech Transportation Institute – VTTI– fez interessante comentário sobre a comparação entre dirigir alcoolizado e usar o celular enquanto dirige: “Recentes resultados onde foram usados simuladores de condução sugerem que conversar ao telefone segurando-o pela mão é tão perigoso quanto dirigir alcoolizado dentro do limite legal norte-americano.”

Os resultados dos estudos de condução indicam claramente que este não é o caso. Comparações recentes feitas em estudos teóricos exageram o risco de uso do telefone celular com relação aos efeitos muito graves do uso de álcool na condução de veículo. “Dirigir embriagado aumenta o risco de um acidente fatal aproximadamente em sete vezes em relação ao condutor sóbrio durante a condução.”

“Usando somente as estatísticas de acidentes fatais, se falar ao telefone fosse tão arriscado quanto dirigir bêbado, o número de acidentes fatais teria aumentado aproximadamente50% na última década em vez de permanecer praticamente inalterado.”

No Brasil 

Aqui, as estatísticas de acidentes de trânsito não identificam, de forma confiável, as causas e a relação delas coma gravidade dos acidentes. A falta de dados impossibilita a avaliação sistemática dos acidentes provocados pela distração. Menos ainda se pode dizer em relação aos acidentes que podem ter sido causados por uso do celular.

O Código de Trânsito Brasileiro, em seu artigo 252, diz ser passível de penalidade de multa e 4 pontos na carteira aquele que “dirigir o veículo utilizando-se de fones nos ouvidos conectados a aparelhagem sonora ou de telefone celular”.

A proibição, em princípio, se aplicaria a todas as funções atualmente disponíveis em um aparelho celular. Há entendimentos de que a proibição de uso se estenderia ao acessório “viva-voz” e ao fone monoauricular, embora não haja na lei restrição expressa ao uso destes acessórios. E não dá para relativizar a norma.

Lei parou no tempo? 

Agora, imagine que o condutor, teoricamente, não está autorizado a usar o aplicativo GPS instalado no telefone celular, mas pode utilizar o aparelho GPS acoplado ao vidro ou ao painel do carro. Ou que o condutor está proibido de ouvir, por meio de conexão sem fio com o rádio, a playlist disponível no aparelho celular, mas pode escolher, trocar o CD e ouvi-lo no rádio do carro à vontade.

O telefone celular tornou-se multifuncional, bem diferente da função exclusiva de comunicação por voz, quando da época que passou a vigorar o CTB. Os acessórios automotivos também se desenvolveram e já permitem conexão sem fio, comandos por voz, controles de funções no volante, computador de bordo...

A distância que separa a teoria legal da prática cotidiana é imensa. Em São Paulo, pesquisa realizada pela ONG Nossa São Paulo indica que o tempo médio de deslocamento pelas vias da cidade é de 2 horas e 49 minutos, o que significa uma “perda” de 31 dias (um mês) por ano. Mais dias parados no trânsito do que o período de férias oferecido aos empregados!

Dado oficial da CET/SP indica que, em 2011, a velocidade média dos carros no pico da tarde era de 18 km/h. Contudo, para aqueles que dirigem nas principais ruas e avenidas da cidade de São Paulo, é fácil notar que, nos horários de pico, os veículos rodam praticamente na mesma velocidade dos pedestres: aproximadamente 6 km/h.

No âmbito da fiscalização, é notório que os agentes da autoridade não têm condições seguras de identificar se, e quando, o condutor está usando conexão sem fio associada ao “viva-voz” ou ao fone de ouvido.

A otimização do tempo e a necessidade de comunicação são características imprescindíveis à sociedade atual. Conciliar essas características com segurança viáriaé o desafio.

Não bobeie

Usar o celular em “viva-voz” não é completamente seguro, poiso risco de acidente está na “distração cognitiva”. Contudo, o dispositivo permite ao motorista manter os olhos na via e as mãos no volante.

Se precisar atender a ligação enquanto dirige, seja breve e combine conversar depois. A situação de tráfego e o teor da conversa podem gerar alteração emocional, aumentando as chances de acidente.

Se a conversa for urgente, pare o veículo em local seguro.

Mantenha os olhos na via e as mãos no volante.

Não troque mensagens de texto enquanto dirige. 

Não use o telefone celular segurando-o com uma das mãos.

Se a comunicação por texto for muito necessária, pare o veículo em local seguro. 

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