DESABAFO - jornalista faz relato emocionante sobre fechamento do Diário da Borborema e sensibiliza colegas de profissão
Agora que a poeira começou a baixar e a “ficha” caiu, comecei a refletir sobre o impacto que foi o fechamento do Diário da Borborema. Eu ainda não era nascido quando o DB surgiu por obra do paraibano Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Melo. Ao longo dos meus tempos de criança, escutei muitas histórias no rádio ABC que tinha em casa – era um tijolão preto – de Campina Grande reproduzidas a partir de relatos transcritos nas páginas do Diário do Borborema. Histórias memoráveis que o DB publicou de lutas e conquistas de nossa Rainha da Borborema. Aliás, ninguém tem dúvida de que a história do DB se confundia com a história de Campina Grande.
O tempo passou e anos depois fui trabalhar no Diário da Borborema que, para mim, foi uma grande escola, onde pude aprender muito, aperfeiçoando na prática os ensinamentos dos tempos de universidade. Na redação do DB, onde passei 14 anos, tive a oportunidade, como repórter, de resgatar algumas daquelas histórias que ouvia na época de criança. Histórias tristes, alegres, inesquecíveis e que ficaram para a posteridade.
Lembro muito bem da edição histórica dos 50 anos de existência do DB que escrevi durante três meses de pesquisa. Foi um dos períodos mais difíceis da minha vida, pois durante a produção do caderno especial perdi o meu pai. Na oportunidade, escavamos alguns dos episódios que mudaram a vida do campinense e que se perderam no tempo. Basta recordar das campanhas que o jornal liderou em prol da vinda da água para a cidade; a construção do Açude Epitácio Pessoa; a criação da UEPB entre outras. Parece que essa luta ficou enterrada no tempo e no esquecimento de muitos paraibanos.
Naquela edição memorável, reencontramos alguns personagens perdidos no tempo e que mesmo vivendo no anonimato fizeram parte dos fragmentos históricos de Campina, como um rapaz que nos tempos de criança foi atingido pela explosão de um balão de oxigênio no José Pinheiro, no fatídico Natal de 74. Nessa busca por fatos que ligava o passado ao presente, descobrimos episódios como o desencarrilhamento de um trem em Galante que matou dezenas de pessoas; a queda de um avião no Serrotão na maior tragédia aérea da cidade. Fatos que estão guardados no arquivo do jornal, sem dúvida um dos mais valiosos tesouros históricos da cidade e fonte de pesquisa para as novas e futuras gerações de campinenses.
Há pelo menos 10 anos, passei a escrever as matérias especiais de aniversário do DB e cada vez que sentava de frente para o computador sempre descobria um fato novo da brilhante trajetória do jornal que se proclamou 100% Campina Grande. E realmente era. Era impossível não vislumbrar a imagem histórica do 2 de outubro de 1957, quando Assis Chateaubriand cortou a fita inaugural do DB em um dia inesquecível para a cidade. A foto histórica e a primeira edição rodada em preto e branco vinham sempre na lembrança e nos impulsionava a reproduzi-la todos os anos.
É inconteste que o sonho de Chatô virou patrimônio de Campina Grande.
Na última quarta-feira, quando fomos trabalhar, fomos surpreendidos pela notícia dando conta de que aquele seria o último dia de circulação do cinquentão Diário da Borborema. Sem dúvida o choque foi grande. Inevitável. Uma notícia bombástica sobre o jornal que passou 54 anos fazendo notícia. Entre o histórico 2 de outubro de 1957 e o fatídico 1º de fevereiro de 2012 muita coisa mudou. O jornal que atravessou décadas, superou crise e deu salto no seu tempo, não resistiu a impiedosa onda da modernidade e morreu. Se despediu da história com a mesma rapidez com que se projetou no tempo.
A notícia dando conta de que o DB havia circulado pela última vez, certamente produziu um sentimento de dor na redação. Foi triste ver os colegas de anos no batente se despedindo. As lágrimas rolando. O choro. O alento era saber que todos tínhamos feitos a sua parte e resistido até o último dia. O sentimento que ficou foi o de perda. O mesmo quando perdemos um parente querido. As máquinas então foram desligadas. Não havia mais jornal para rodar. E um vazio imenso tomou conta da redação. Um silêncio fúnebre ficou no espaço onde produzíamos notícia todos os dias.
Para traz ficou a história, ficaram as lembranças da inúmeras reportagens que produzimos e, principalmente, da amizade que cativamos ao longo de anos. O difícil de tudo é readaptarmos a nossa rotina sem ter mais o jornal para escrever. Quem foi o culpado pelo fechamento do DB? Bom, isso é outra história que só o tempo se encarregará de descobrir.
PB Agora
Agora que a poeira começou a baixar e a “ficha” caiu, comecei a refletir sobre o impacto que foi o fechamento do Diário da Borborema. Eu ainda não era nascido quando o DB surgiu por obra do paraibano Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Melo. Ao longo dos meus tempos de criança, escutei muitas histórias no rádio ABC que tinha em casa – era um tijolão preto – de Campina Grande reproduzidas a partir de relatos transcritos nas páginas do Diário do Borborema. Histórias memoráveis que o DB publicou de lutas e conquistas de nossa Rainha da Borborema. Aliás, ninguém tem dúvida de que a história do DB se confundia com a história de Campina Grande.
O tempo passou e anos depois fui trabalhar no Diário da Borborema que, para mim, foi uma grande escola, onde pude aprender muito, aperfeiçoando na prática os ensinamentos dos tempos de universidade. Na redação do DB, onde passei 14 anos, tive a oportunidade, como repórter, de resgatar algumas daquelas histórias que ouvia na época de criança. Histórias tristes, alegres, inesquecíveis e que ficaram para a posteridade.
Lembro muito bem da edição histórica dos 50 anos de existência do DB que escrevi durante três meses de pesquisa. Foi um dos períodos mais difíceis da minha vida, pois durante a produção do caderno especial perdi o meu pai. Na oportunidade, escavamos alguns dos episódios que mudaram a vida do campinense e que se perderam no tempo. Basta recordar das campanhas que o jornal liderou em prol da vinda da água para a cidade; a construção do Açude Epitácio Pessoa; a criação da UEPB entre outras. Parece que essa luta ficou enterrada no tempo e no esquecimento de muitos paraibanos.
Naquela edição memorável, reencontramos alguns personagens perdidos no tempo e que mesmo vivendo no anonimato fizeram parte dos fragmentos históricos de Campina, como um rapaz que nos tempos de criança foi atingido pela explosão de um balão de oxigênio no José Pinheiro, no fatídico Natal de 74. Nessa busca por fatos que ligava o passado ao presente, descobrimos episódios como o desencarrilhamento de um trem em Galante que matou dezenas de pessoas; a queda de um avião no Serrotão na maior tragédia aérea da cidade. Fatos que estão guardados no arquivo do jornal, sem dúvida um dos mais valiosos tesouros históricos da cidade e fonte de pesquisa para as novas e futuras gerações de campinenses.
Há pelo menos 10 anos, passei a escrever as matérias especiais de aniversário do DB e cada vez que sentava de frente para o computador sempre descobria um fato novo da brilhante trajetória do jornal que se proclamou 100% Campina Grande. E realmente era. Era impossível não vislumbrar a imagem histórica do 2 de outubro de 1957, quando Assis Chateaubriand cortou a fita inaugural do DB em um dia inesquecível para a cidade. A foto histórica e a primeira edição rodada em preto e branco vinham sempre na lembrança e nos impulsionava a reproduzi-la todos os anos.
É inconteste que o sonho de Chatô virou patrimônio de Campina Grande.
Na última quarta-feira, quando fomos trabalhar, fomos surpreendidos pela notícia dando conta de que aquele seria o último dia de circulação do cinquentão Diário da Borborema. Sem dúvida o choque foi grande. Inevitável. Uma notícia bombástica sobre o jornal que passou 54 anos fazendo notícia. Entre o histórico 2 de outubro de 1957 e o fatídico 1º de fevereiro de 2012 muita coisa mudou. O jornal que atravessou décadas, superou crise e deu salto no seu tempo, não resistiu a impiedosa onda da modernidade e morreu. Se despediu da história com a mesma rapidez com que se projetou no tempo.
A notícia dando conta de que o DB havia circulado pela última vez, certamente produziu um sentimento de dor na redação. Foi triste ver os colegas de anos no batente se despedindo. As lágrimas rolando. O choro. O alento era saber que todos tínhamos feitos a sua parte e resistido até o último dia. O sentimento que ficou foi o de perda. O mesmo quando perdemos um parente querido. As máquinas então foram desligadas. Não havia mais jornal para rodar. E um vazio imenso tomou conta da redação. Um silêncio fúnebre ficou no espaço onde produzíamos notícia todos os dias.
Para traz ficou a história, ficaram as lembranças da inúmeras reportagens que produzimos e, principalmente, da amizade que cativamos ao longo de anos. O difícil de tudo é readaptarmos a nossa rotina sem ter mais o jornal para escrever. Quem foi o culpado pelo fechamento do DB? Bom, isso é outra história que só o tempo se encarregará de descobrir.
PB Agora
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