domingo, 29 de abril de 2012

Biblioteca montada em jumento incentiva a leitura no interior de PE


(Foto: Luciano Campêlo / Divulgação)(Foto: Luciano Campêlo / Divulgação)
'Livros Andantes' leva publicações a comunidades rurais da Mata Sul. Ariano Suassuna, Raimundo Carrero e Shakespeare fazem parte do acervo.
'Biblioteca-jumento' disponibiliza livros para comunidades rurais da Mata Sul de Pernambuco.

Uma biblioteca itinerante que tem como meio de transporte um jumento. A ideia inusitada faz parte do projeto 'Livros Andantes', que passeia atualmente pela Mata Sul de Pernambuco incentivando a leitura nas comunidades rurais de Raiz de Dentro e Estevinhas, em Amaraji. Cada um dos povoados vai receber quase 200 livros e cordéis, que ficam para a comunidade depois dos 16 encontros promovidos pelo projeto. Os encontros acontecem sempre aos domingos, com participação de professores e arte-educadores capacitados em oficinas do Livros Andantes.

Neste domingo (29), o projeto vai estar na comunidade de Raiz de Dentro durante a manhã. Na parte da tarde, é a vez de Estevinhas, ambos no município de Amaraji . “Pela nossa experiência, depois do 16º encontro, a comunidade já tem certa intimidade com os livros, já vai em busca deles. Afinal, nosso objetivo é realmente esse, deixar os livros, formar novos leitores”, conta Clara Angélica, coordenadora do projeto.
A escolha do jumento como meio de levar os livros às comunidades, que não tem um acesso fácil, faz parte do processo de conquista do público. “Quando eu pensei no projeto, pensei em ir em busca desse potencial leitor, que não tem como se deslocar até a biblioteca da cidade. O jumento é um meio de transporte bastante comum na região, eles usam para transportar o que plantam, como banana, inhame, cará. Era uma forma de fazer parte do cotidiano deles”, explica a coordenadora.
As atividades da biblioteca itinerante começam com a leitura de algum trecho ou capítulo de um livro e, depois, o público é convidado a escolher mais um para ser lido. Após a leitura, entram em cena os arte-educadores e os empréstimos dos livros, buscando sempre que o leitor compartilhe no encontro seguinte parte da obra com os outros. "Quando você tem contato com os livros, de alguma maneira uma luz se acende na sua vida. É como se você estivesse o tempo todo na escuridão, e quando você tem contato com o livro, o mundo se abre pra você de alguma forma. Isso não tem preço", defende Clara Angélica.
Projeto busca formar novos leitores. (Foto: Luciano Campêlo / Divulgação)Projeto busca formar novos leitores.
(Foto: Luciano Campêlo / Divulgação)
Entre os títulos à disposição das comunidades estão livros de autores pernambucanos, mas também de obras clássicas da literatura brasileira e mundial. “A gente leva Ariano Suassuna, Raimundo Carrero, literatura de cordel, não só naquela ediçãozinha de livreto, mas também uns de capa dura que já são publicados. Romeu e Julieta, uma versão mais adaptada para uma linguagem mais popular, a gente tem essa preocupação de trazer a boa literatura”, detalha Clara.
A primeira edição do projeto aconteceu em 2009, no povoado de Prata Grande, onde o projeto comemora mais de 1.200 empréstimos, e de Estivas, ambos em Amaraji. “Uma coisa que é muito legal é a receptividade, o encantamento que o livro provoca. Na primeira vez, muitos chegaram a cavalo e ficaram dentro de um abrigo. É todo um processo de conquista. No dia seguinte do primeiro encontro, seis adultos foram lá me procurar para serem alfabetizados”, lembra a coordenadora.
Nesta edição, além da ‘biblioteca-jumento’, o projeto criou também um cineclube, que leva curtas-metragens ligados às temáticas da comunidade. No primeiro encontro deste ano, no último dia 15 de abril, o filme foi ‘Terra para Rose’, de Tetê Moraes, documentário de 1985 que fala sobre reforma agrária. “Eles se identificaram, lembraram que foram de Vitória de Santo Antão para o Recife a pé, compartilharam experiências”, conta animada Clara.
Para esse domingo (29), o cineclube apresenta um documentário sobre mulheres que raspam mandioca. “É um documentário, um curta que tem totalmente a ver com a realidade deles. Eles têm casa de farinha, plantam a mandioca”, acrescenta a coordenadora.
G1 Pernambuco 
Katherine Coutinho Do G1 PE

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