terça-feira, 28 de agosto de 2012

Calças quadradas


Divulgação
Sempre ingênuo, Bob Esponja continua alheio aos boatos sobre sua orientação sexual, mesmo dez anos depois de as especulações se tornarem assunto na mídia dos EUA, onde volta e meia é acusado por grupos conservadores de fazer propaganda homossexual. Agora, uma comissão nacional da Ucrânia sobre assuntos para a defesa da moral concluiu que, de tão gay, ele chega a ser "uma ameaça real para as crianças".
"Tirar do armário" um personagem de desenho animado não é uma tarefa qualquer. Exige dedicação e vocação enorme para fiscal de fiofó. É gente que não brinca em serviço. Aliás, não sabe brincar. A obsessão pelo roxinho fez de Tinky Winky (Teletubbies) e Barney os primeiros alvos da falta de foco de quem "só pensa naquilo".
Para os críticos, o "problema" do Bob Esponja é ser muito alegrinho. Talvez o incômodo seja o fato de o desenho representar os gêneros fora do que se convencionou como padrão na TV. Bob Esponja é um sujeito sensível e meigo, enquanto a esquilo Sandy, a figura feminina da história, é uma líder inata, forte e inteligente. Sinal dos tempos, não? E qual comportamento esperar de uma esponja?
Claro, interpretações estão livres por aí. Salsicha (Scooby-Doo) pode ser o maior maconheiro do planeta; Pica-Pau, um cocainômano típico, e Gargamel (Smurfs), um alucinado por chá de cogumelo. Levar isso a sério é uma viagem.
Bob Esponja é um ingênuo, como boa parte do seu público. Mas apresenta "uma ameaça real para as crianças" quando sua imagem é explorada sob a forma de incontáveis produtos licenciados, principalmente comidinhas-bomba, com níveis obscenos de sal, açúcar e gordura. Uma estratégia que busca atingir pequenos e adultos, como revela a própria Nickelodeon, dona da marca.
A maior qualidade de um desenho animado é poder ser aquilo que realmente é, por mais absurdo que pareça —  como uma esponja de calças quadradas. O problema é quando cruza caminho com a publicidade, cuja razão de ser é nunca revelar seu verdadeiro nome.

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